quinta-feira, 30 de abril de 2009

fome zero e a mamãe gansa


Charlotte, que história é esta?!

Para este caso, tenho duas hipóteses científicas baseadas na lógica da linguistica matemática:

HIPÓTESE 1:
A raposa hippie amiga do Alphonsus tomou gosto por passeios culturais e resolveu dar uma passadinha no refeitório do sítio arqueológico. Sem ter onde comprar algo para comer, de repente se viu num ambiente que mais parecia uma exposição de marmitas, organizadas em prateleiras de uma vitrine refrigerada e pensou que se tratava de uma instalação "de eat art", sem lembrar-se que estava longe de uma galeria de arte contemporânea - afinal a pobrezinha ainda está aprendendo os limites da interatividade público - obra de arte.
Olhou, pensou e achou que, só pra uma boquinha, podia aproveitar que o frango estava pronto para ser saboreado - poupando todo o tempo de encontrar um frango vivo, caça-lo e come-lo (algo que mesmo sendo contra seus principios, ela precisa fazer...)
Nem imaginava que o frango era de alguém que iria passar o dia fazendo registros arqueológicos - caso contrário, aproveitaria para comer todo o conteúdo da marmita e dar a oportunidade da pessoa ir a um restaurante ver outras pessoas e respirar outros ares, fazendo assim um serviço de utilidade pública ao gentil dono da refeição.
Ainda com fome, raposa pegou seu cartão emprestado enquanto você foi ao banheiro e passou no supermercado pra comprar umas coisinhas: patê de fois grais, brie, nada muito caro. Em retribuição (como ela é este tipo de criatura que acredita na lei de ação e reação) pode esperar por uma surpresa à altura, como um banquete preparado por ela mesma, um dia desses, em sua casa. Você vai chegar e ela terá deixado tudo pronto com um bilhete de agradecimento pelo empréstimo generoso e providencial!

HIPÓTESE 2:
Esta história dos três porquinhos ficarem passeando por aí gripados está fazendo com que todo lobo mau que tem o mínimo de cuidado com a saúde pare terminantemente de perseguí-los.
Assim, vocês podem ter sido vítimas de uma visita do Lobo, que ao se deparar com a geladeira do refeitório pensou que não faria mal a ninguém se desse uma beliscada sutil: 5 grãos de arroz de uma, 2 fatias de abobrinha de outra, um tomate de outra-outra e assim por diante. Pode PARECER que ele só pegou o frango, mas na verdade pode ter feito duas a três refeições e ninguém se deu conta!
Como ele não conseguiu pegar o suficiente para o jantar, e também não achou nenhuma sobremesa, lembrou-se que neste tipo de local de trabalho as pessoas costumam ter este tal cartão plástico que pode tudo - ou quase - e achou sua foto bonita, "cara de rica", e resolveu que este dinheiro não faria falta a você.
Assim, este não foi um empreéstimo, mas algo que só a psicanálise pode explicar: ele achou que você, nestas condições de vida e trabalho opulentas, devia isso a ele.
PORTANTO vocês estão quites [e você, sem quitutes!]

Assim, querida Charllie, só me resta a despedida. Deixo o caso para você resolver, lembrando que, como dizia nosso professor de literatura policial, "há mistérios que perdem toda sua potência se e quando desvendados".

Aqui na missão, nada de novo, exceto o aparecimento de um novo documento para traduzir - este cheio de imagens de - pasme - indumentária O NOSSO ASSUNTO DO MOMENTO!
Preciso ir, mas deixo aqui margem ao novo que este dia tem pra nos oferecer!

beijo! Lilalillala

quarta-feira, 29 de abril de 2009

marmita sem frango

Querida Lila,
Então você estava em um dia de fúria? Normal.
Mas o pior de se colocar tudo para fora, por mais que este tudo seja a mais completa e redonda verdade, é a ressaca do dia seguinte. Fica aquela sensação esquisita no estomago, de rebordoza, de ácidos que foram liberados sem a menor necessidade, pois não é que você efetivamente tinha que digerir uma pizza, dois pedaços de lasanha e um pedaço de torta de limão, nem nada assim, o único a digerir seriam alguns sapos, mas que não valem o esforço. Pelo menos comigo é assim.

Hoje tive problemas bem mundanos, maldita hora em que escrevi que gostaria de ser bem normal. Lá onde eu costumo ir tem gente que leva marmita, para a hora do almoço sabe? Eu mesmo já levei várias vezes. Então aconteceu que roubaram o frango da marmita de uma pessoa. É, R O U B A R A M o frango!
Só o frango e nada mais, o arroz, a polenta, o feijão e as verdurinhas ficaram na marmita. Fico imaginando o ser que entrou no refeitório, olhou para um lado, olhou para o outro e se vendo alí sozinho começou a vistoriar as marmitas a fim de escolher a carne mais suculenta e bonita para roubar.

A outra questão foi que clonaram meu cartão de vale alimentação. Ontem eu tinha dinheiro neste cartão que me propiciava almoçar ou jantar nos estabelecimentos filiados a empresa do vale, segundo diz o manual do usuário. Hoje eu acordei e todo o dinheiro tinha "puff", sumido, estava com ZERO saldo. A mocinha do atendimento abriu uma ocorrência e a empresa estará tratando de verificar se ocorreu uma fraude, a empresa tem 3 dias úteis para me dizer se realmente eu fui roubada, clonada ou sei lá o que. Bom, acho bom eles chegarem a conclusão de que meu cartão foi clonado porque, caso contrário, a segunda opção será:

"Senhora, constatamos a sua ocorrência e nossos pareceristas chegaram a conclusão de que a senhora foi em um único restaurante e comeu muito, tanto que gastou todo o saldo do mês em um único dia e lugar. A senhora é descontrolada? Tem problemas de gula? Podemos lhe indicar um psicanalista".

Então, Senhora Lila Fúria, me diga o que será. Marmita sem frango ou Cartão sem saldo?

Ah! Pode ficar com meu lenço manchado de mostarda, pois agora ele me lembra o quanto eu sou neurótica e o quanto eu tenho mania de perseguição.

Kisses da Charlotte.

terça-feira, 28 de abril de 2009

nada está parando do lado de dentro


Charlotte! A mais americana das arqueólogas!

Notícias nada animadoras... acordei com um problemão daqueles: pior que diarréia e muito pior que enjôo de barco. Não consigo guardar nada dentro de mim!
De minha boca estão saindo em disparada as coisas abomináveis que penso sobre muitos assuntos!
Começou logo cedo e estou derrubando todo mundo que passa por perto, ainda que fique com a boca fechada as palavras saem pelos olhos, ouvidos e escapam por entre os dedos...
Imagino que tenha a ver com a tradução que terminei antes de dormir; talvez seja uma daquelas fórmulas mágicas que não podem ser repetidas em voz alta, mas achei tão difícil de entender que repeti quando fui escovar os dentes, em frente ao espelho:

"verbo faca
explosão da verdade descontrolada
machuca, dói e quebra
em (por) mim"

não quero continuar assim, especialmente porque faltam poucos dias para nosso primeiro encontro com o Liu, que é tão sensível e inteligente...

vou continuar a tradução do manuscrito até encontrar algo que atenue ou acabe com esta coisa descontrolada. não aguento mais trabalhar em nossa missão somente nas madrugadas, quero MAIS!!! (e isso pode incluir os tais carimbos, mas só se forem daquela lojinha de carimbos feitos à mão...)

despeço-me por aqui hoje, antes que sobrem palavras descontroladas pra vc também!
saudades,

Lila G.


[e por falar em verdades, aquela sua echarpe velha e manchada de mostarda está aqui em casa, peguei emprestada em nossa última missão na Chapada e não achei que você ia querer de volta (ops... desculpa!)]

lenço azul turquesa

Lila, Lilinha, Liloca!
Que bom receber notícias suas, mesmo que sejam notícias estranhas, embaladas por forças ocultas. Se nos descobriram precisamos pensar no plano B que...qual era mesmo?
Ah! Não entrar em pânico, porque pânico não tem nada que ver conosco. Estamos acima do pânico, do medo, da incerteza e da gripe suína. Daí, se você concordar, vamos direto ao plano C. Porém precisaremos ter certeza antes de tudo.
Demorei para escrever pois estava submersa até o pescoço e você bem sabe que isso não é figura de linguagem. Só estamos conseguindo trabalhar de madrugada, pois depois deste horário o porto fica muito cheio de embarcações, a água se agita e não conseguimos medir ou desenhar nada. So, my dear, tive que dormir profundamente até agora (e isso sim foi figura de linguagem).
Curioso você me escrever sobre o Francys. A uns quatro meses eu perdi o lenço azul turquesa que ele me deu, lembra? Aquele que eu manchei com mostarda. Acho que me esqueci dele no aeroporto de Nova Délhi. A dois dias atrás estava no centro da cidade e vi uma mulher com o lenço na cabeça e sim, não estou maluca, era o meu lenço azul turquesa com a minha mancha de mostarda que só eu soube fazer. Eu bem que corri atrás da mulher mas me confundi nestas ruas estreitas e labirinticas. Será que estão nos seguindo?
Espero que você acabe logo a tradução e descubra algo significativo para as nossas vidas. Caso contrário não encontraremos o pequeno Liu nunca.
Me diga se as vezes você não gostaria de ser uma pessoa bem normal, daquelas que ficam sentadas 8 horas do dia escrevendo relatórios no computador e preenchendo papéis. Eu teria um vasinho de flor enfeitando a minha mesa e um calendário para verificar, a cada instante, se as terças-feiras não tinham pulado e mudado de lugar com as quintas e se as segundas não tinham se transformado em sábados, cansadas de tanta injustiça e ódio. Também gostaria de usar carimbos, chega a ser quase um fetiche.
Se algo estranho acontecer me avisa, caso contrário me avise também.
Kisses, kisses,
Charlotte T.
PS: não demore a dar notícias pois assim você me assusta.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

interlocutor à espreita


querida Charlotte T.!
espero que você consiga ler este post ainda hoje. o dia foi bem estranho aqui na missão, a começar por uma ligação com acento de Portugal em todas as palavras, muito bem articuladas por uma mulher bastante objetiva:
- Senhora, bom dia, aguarde um instante que seu interlocutor irá falar. tututututututu.
silêncio. volto ao nosso sítio e o telefone toca novamente.
- Senhora, bom dia, aguarde um instante que seu interlocutor irá falar. tututututututu.
silêncio.

será que descobriram agente? será que nossos planos não serão mais tão secretos assim?
quantas milhares de pessoas terão acesso a eles?

sem mais hipóteses e seja como for, preciso te dizer que as pesquisas de campo continuam bem. Hoje me visitou um antigo e muito querido interlocutor, o Francys Alys, e conversamos sobre aquele trabalho lindo que ele me mostrou na Bienal de Veneza de 2007, feito especialmente para aquela garotinha que acompanhamos durante nossa viagem a Portugal, a Maria Elvira, sobre a finitude:
nothing we R
nothing will B
I see you R / I tell you B

Lembramos também do dia em que ele convidou aquela raposa meio hippie, amiga do Alphonsus Canastra, para passar a noite visitando a National Portrait Gallery. Ele acha que ela gostou bastante do passeio e que vai parar de implicar com o fato do Alphonsus falar tanto sobre museus depois de ter ido trabalhar como diretor de um!

O Francys se despediu dizendo que está te esperando no youtube. Quando chegar lá, pergunte a ele sobre o BOLERO e o ZORRO. Ele insistiu muito que precisa falar com você!

Por estas e outras, continuo acreditando que devemos acolher os interlocutores.
Efusivamente.
Abraços blogais,
certamente editoriais
(e nada gramaticais!)
Lila G.